Casteleiro – Recordar a Lucindinha
Versão completa aqui. Versão sintética no 'Capeia'
Não sei bem se tratar em título a Dra. Lucinda Pires por Lucindinha vai ser do agrado de todos os leitores ou se alguns pensarão que é uma forma lamechas de escrever ou até mesmo se alguém pensará que é falta de valores.
Mas garanto que
não é nada disso. E, mesmo sabendo que corro o risco, arrisquei. A nossa
autarca nº 1 dos tempos novos, da democracia adulta, do voluntariado
desinteressado, faleceu há seis anos e quero aqui lembrá-la, ou seja:
homenageá-la. Vamos já aí adiante trazer a lume depoimentos e recordações de
tipo vário que provam o apreço de tanta gente pela Lucinda Pires, de boa, muito
boa memória.
Outro assunto:
como sei que ela teria achado piada a esta minha ideia de criar uma gazeta
regional «on line», atrevo-me a sugerir ao leitor que tenha a curiosidade de
dar uma saltada à edição nº 12, aqui. Vale a pena ir lá. Por exemplo: esta peça que
está a ler é só uma parte do material que recolhi. O resto pode ser lido no
«Serra d’ Opa».
Vamos
então fazer a justiça de explicar quem era e o que fez a Lucinda para ficar nas
memórias de todos – no Casteleiro e não só…
Muita
gente na terra tratava a Lucinda Pires por Lucindinha. Isso, por motivos de
simpatia – que era geral, verdade se diga. Por isso, chamei o diminutivo ao
título desta peça com a intenção simbólica de mostrar o carinho e a amizade que
todos lhe tínhamos. Quero aqui também, por justiça, referir os pais, Felícia e
Joaquim Pires – este infelizmente falecido há muito.
A
Lucinda morreu muito nova, aos 49 anos, de forma inesperada, após uma
intervenção cirúrgica e, ao que se sabe, vítima de ataque cardíaco – para minha
enorme surpresa e aviso geral: hoje estamos cá; amanhã, não sabemos.
È
justo que seis anos depois se faça uma colecta de depoimentos (uns da altura,
outros posteriores e alguns dos dias de hoje). Deixo aí o resultado. Fui ouvir
algumas pessoas que privaram mais com ela nos seus últimos anos. É a minha
forma de a recordar. Dava-me muito bem com ela. Era fácil conversar com ela.
Gostava dela. A sua simpatia era para mim o traço principal, mais até do que a
sua conhecida dedicação às causas a que se entregava. Por exemplo, uma causa
que muita gente desconhece que ela abraçava, embora sem dar nas vistas: o
Ambiente.
Personalidade
solidária
Os
depoimentos recolhidos sobre Lucinda Pires são unânimes em três qualidades da
homenageada: dedicação à nossa terra; solidariedade; simpatia.
Começo
por transcrever para o leitor as declarações de António Marques, Presidente da Junta de Freguesia do Casteleiro a
iniciar agora o seu segundo mandato: «Relembrar a Lucinda é, sobretudo, lembrar
alguém que amava o Casteleiro e as suas gentes. Uma mulher que nunca dizia não,
com uma disponibilidade permanente para ajudar os problemas dos seus
conterrâneos. Ganhou a estima de todos pelo seu modo de estar, pela sua
personalidade solidária. Enquanto autarca, no Casteleiro e no Sabugal, foi
capaz de elevar bem alto esses valores, sempre com um sorriso, em permanente
luta pelo bem-estar dos que a rodeavam. A Lucinda foi uma casteleirense de gema
e é, para todos nós, a nossa Lucindinha».
Outro companheiro das lides autárquicas de
Lucinda que quis ouvir para este trabalho é José Freire. Este activista concelhio foi Presidente e Vereador da
Câmara Municipal do Sabugal e presta-lhe também a sua homenagem sentida: «Falar
da Drª Lucinda, ou melhor falar da Lucindinha, pois assim era tratada
carinhosamente pelas muitas gentes do Casteleiro, é sempre difícil para mim. É
que a Lucinda era uma pessoa acima da maioria dos mortais, era uma pessoa que,
dentro da sua simplicidade aparente, tinha uma nobreza e carácter fora do
comum. O que eu mais admirava nela era a sua vontade e prontidão em ajudar o
próximo sem pedir nada em troca, era a sua luta constante pelo bem-estar dos
amigos e pelo progresso da sua terra, o Casteleiro, e do concelho. Era
sobretudo uma pessoa humanitária. A Lucinda deixou-nos muitas saudades e faz
falta, principalmente às pessoas do Casteleiro e do concelho do Sabugal. Com
pessoas como ela o nosso mundo seria muito melhor. Estou certo que ela continua
a acompanhar os amigos».
Alunos e colegas
gostavam muito da Lucinda
Na
Escola do Teixoso onde leccionava, tinha muitos amigos. Todos ficaram muito
consternados, pelo que se vê do que ficou escrito na época. Estamos em Outubro
de 2007. Logo após a sua morte, na semana seguinte, a Professora Lucinda foi
homenageada na «sua» escola: em 23/10/2007, era noticiada com agrado geral a
intenção de fazer uma «homenagem póstuma do Agrupamento de Escolas do Teixoso à
professora Lucinda Pires». Os comentários não se fizeram esperar: «Uma grande
professora que nunca ngm vai esquecer .
. . uma das mlhres professoras d sempre . . . homenagem fantástica . . . até
sempre professora Lucinda!!» ( - a grafia dos adolescentes já era esta há seis
anos!); ou: «Lindo, uma homenagem fantástica»; ou ainda,
por exemplo: «Parabéns aos autores do gesto! É
deveras merecido! A Prof. Lucinda foi e é exemplo de alegria, de estar bem com
a vida, de garra...ficam-nos as recordações, na memória e a amizade, no
coração...Um até lá!».
Não
é preciso dizer muito mais sobre o que colegas e alunos pensavam dela.
No
entanto, uma nota inserida no jornalinho da Escola do Teixoso chamado «O Teixo»
deixa ainda mais clara a amizade forte e o apreço sincero. Por razões de
espaço, vou apenas transcrever umas linhas, mas pode aceder a todo o «Memorial»
aqui – procure a página 11 da edição e
leia. Mas também as deixo na íntegra aqui,
para maior facilidade de busca.
Sintetizando
essa nota: «Há pessoas que, quer se goste delas ou não, não são indiferentes a
ninguém. Com a sua força interior, alegria, dinamismo, frontalidade e
capacidade de trabalho, derrubam montanhas, se necessário. A professora Lucinda
Pires era assim. (…) os projectos ambiciosos que dinamizava exigiam, da parte
dela, um grande esforço e entrega. (…) Ficará para sempre um vazio, uma
insatisfação, uma sensação de que tanto ficou por dizer e por viver… Oxalá
tenhamos todos percebido, no tempo em que convivemos com a professora Lucinda,
o que de facto é importante na vida. (…) Até sempre, Lucinda».
Para
terminar esta referência ao seu local de trabalho, insiro um filme de homenagem
que a um colega da Escola publicou aqui,
com a simples legenda «A Professora Lucinda continuará a marcar as nossas
vidas» e o título singelo: «Homenagem à Lucinda». Acho que o leitor deve ver as
imagens e ouvir a música desse diaporama.
O ambiente
também a interessava
Poucas
pessoas saberão disto. O ambiente também interessava a professora que ela era.
De facto, quando faleceu, a Lucinda
era a coordenadora do Clube da Floresta da sua escola, integrado no Prosepe
(Projecto de Sensibilização e Educação Florestal da População Escolar). Sobre
estes clubes, li no «site» da Universidade de Coimbra: «Os Clubes da Floresta
são o espelho do trabalho realizado, diariamente, nas nossas Escolas, aderentes
à rede Prosepe, por todo o Portugal. O Prosepe é um projeto interdisciplinar e
interinstitucional que dinamiza um vasto programa de atividades, o qual
comporta, basicamente, duas valências complementares: formação de professores e
responsabilização dos alunos. O Prosepe através das actividades dos Clubes das
Floresta permite dar conhecer à população, em geral, uma nova forma de ensinar,
participada, de formar melhores cidadãos, responsáveis e consciente da
importância da preservação das nossas Florestas. Aqui encontrarás toda a
informação do histórico e das atividades de cada um dos Clubes da Floresta da
rede Prosepe». Aqui.
Outras opiniões
sobre Lucinda Pires
Datadas
de anos anteriores, recolhi na investigação breve que fiz algumas opiniões que
quero aqui deixar registadas hoje.
Cristina
Alexandrino
(Presidente da Assembleia de Freguesia do Casteleiro) ao ‘Capeia’, a propósito
da inauguração do busto da Dra. Lucinda Pires no Largo de São Francisco: «Decidimos
realizar uma homenagem muito simples e sem grandes evocações, muito à medida da
personalidade da professora Lucinda, que era também uma pessoa simples e
prática, que sempre foi avessa a protagonismos. O Casteleiro e o concelho do
Sabugal devem-lhe muito, pelo que decidimos imortalizar a sua memória através
da colocação do seu busto no centro da freguesia».
Paulo Leitão
Batista,
responsável do «Capeia» no dia do falecimento: «Durante anos foi presidente da
Junta de Freguesia da sua terra natal, onde realizou obra notável, sendo também
grande activista do associativismo local. Militante do Partido Socialista (…). O
concelho do Sabugal ficou mais pobre com o falecimento da dinâmica professora
Lucinda Pires». E há dias, a propósito da memória inserida no ‘Viver
Casteleiro’ sobre os seis anos da passagem da Lucinda para o outro lado, PLB
escreveu em comentário no «Facebook», de forma bem singela, o maior elogio que
se pode dar à autarca falecida: «Uma mulher admirável que merece o respeito de
todos».
Lucinda contribuiu
para o desenvolvimento do Casteleiro
Há
quatro anos, no «Capeia», em entrevista conduzida por Paulo Leitão Batista, Sandra Fortuna, interrogada sobre se se
sentia «uma seguidora do trabalho político que a professora Lucinda fez no
concelho?», respondeu: «Sinto um enorme orgulho no trabalho da Lucinda Pires no
concelho e sobretudo no Casteleiro. Para mim ela será sempre recordada como uma
grande figura do concelho do Sabugal. Não sinto que esteja a seguir o seu
percurso, porque eu quero seguir o meu próprio caminho. Mas ela é para mim uma
referência e lembro-me muitas vezes do percurso que ela teve como presidente de
Junta de Freguesia, vereadora, professora e dirigente associativa. O Casteleiro
orgulha-se muito dela. Note que a Lucinda foi a única figura da freguesia a
quem foi feita uma homenagem pública com a colocação de um busto no largo
principal. Ela contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da terra que a
viu nascer. Nunca a esqueceremos!».
Hoje,
Sandra Fortuna reforça de forma actual aquilo que nessa crónica já afirmara ao
declarar expressamente para este meu trabalho de recolha: «A primeira sensação
que me ocorre quando oiço o nome “Lucinda” é uma saudade infinita, seguida de
uma força interior que me faz recordar grandes momentos de lutas, trabalho e
convívio. Até hoje sem conseguir aceitar um momento trágico que chocou as
gentes do Casteleiro. A Lucinda, autarca, professora, dirigente associativa,
filha, amiga... desempenhou estas funções como ninguém. Foi sobre tudo um
grande Ser Humano».
Notas
1 – Tomaram
posse, a 19 de Outubro, os novos eleitos da Freguesia do Casteleiro. A Junta de
Freguesia continua com a mesma constituição e presidida por António Marques. A
Assembleia de Freguesia continua a ser presidida por Cristina Alexandrino.
Vejas nomes, cargos e fotos aqui,
no ‘Viver Casteleiro’.
2 – Se quiser,
aceda aqui e saiba qual o quadro
em que nasceu esta ideia do Dia de Finados que aí vem, Vai ler sobre Celtas,
Romanos e Lusitanos – mais uma vez.
3 – Como disse
acima, pode aceder a outro noticiário regional na gazetilha semanal “Serra d’
Opa”. A edição nº 12 está disponível aqui.
«A Minha Aldeia», crónica de José Carlos Mendes
É uma reflexão apenas – não merece nota tão alta.
A propósito de «cá do pé» (esclareço nos leitores: o José Jorge é do Vale da Senhora da Póvoa que pelo sopé da Serra d’ Opa dista do Casteleiro aí uns três ou quatro quilómetros…), pois bem, a propósito da tua terra: sabes o que eu descobri aqui há uns tempos sobre o teu Vale e me tenho preocupado em divulgar junto de conterrâneos teus?
Descobri que ali existiu uma localidade romana muito importante de cruzamento de vias e de influência e dominância em toda a região. Segundo sei, era um pouco mais a meia encosta, mas era ali junto do Vale… E essa localidade (talvez fosse a célebre Lancia Oppidana) há quem pense que era uma espécie de capital daquele território dominado pelos romanos…
Vocês no Vale devem ter orgulho nisso.
Pior está o Casteleiro que nessa altura dependia do Vale, depois dependeu de Sortelha – e agora, desde 1855, depende do Sabugal…
Visita sempre a nova gazeta: http://serradopa.blogspot.com/
A teorização que aqui nos traz hoje, em que o óbvio parece ser dominante, para quem conhece estas duas construções, certamente não ficará indiferente.
Agradeço e registo, claro.
Venham então as opiniões dos entendidos.
Gostava imenso de ler algo forte sobre este assunto.
Um abraço.