Casteleiro – Não somos Cova da Beira porquê?
Pensado há 50 anos e começado a construir há 30, o
«Plano de Regadio» de que sempre ouvi falar foi quase concluído este ano. Um
grande benefício para a região. Mas há 40 anos teria sido bem mais útil dado que
hoje há muito menos agricultores. Mas há aqui um problema «genético» no tal
Plano: o Casteleiro, que é em tudo «da mesma cepa» natural que a zona irrigada,
ficou sempre de fora, sempre nos arredores do «canal», e só agora, nas
actualizações recentes, se vê uma nesga ao fundo do túnel… mas o mal está feito.
Aliás, a área de regadio prevista para todo o Concelho do Sabugal é ridícula:
121 ha, quando para outros à volta do Casteleiro se prevêem mais de três mil há
para cada freguesia (Caria e Meimoa, por exemplo).
Hoje, queria que me acompanhasse nesse estudozinho.
E, de caminho, sugiro que tome contacto com noticiário
interessante da nossa zona, através da gazetilha regional chamada «Serra d’
Opa», que vai na sua edição nº 14, esta semana (veja o link na última linha
desta crónica, no final das Notas).
Logo a abrir, chamo a sua
atenção para o facto de aqui se «falar» de água de rega para a agricultura e
não de abastecimento de água para consumo humano. E acho que a melhor maneira
de lançar a questão que vou colocar é pedir ao leitor que comece calmamente por
tomar conhecimento do que é realmente a «Cova da Beira» enquanto projecto
multidisciplinar hidroagrícola. Dois engºs agrónomos, em sessão oficial
promovida pelo departamento governamental da área, começam logo por dizer tudo
(o documento pode ser consultado aqui) :
«O AHCB beneficia uma área regada com 12360 ha, permite o abastecimento público
das populações dos concelhos de Sabugal, Almeida, Pinhel, Penamacor, Belmonte e
Fundão, num total de 80000 habitantes, e apresenta uma componente geradora de
energia eléctrica com potência instalada máxima de 6 Mw».
Estas obras, que já
custaram ao País 320 milhões de euros e que já começaram há dezenas de anos e que
só agora, neste Verão, foram concluídas, deixaram de fora em matéria de regadio
a maior parte dos agricultores do Casteleiro. Apenas (e ainda bem que tal
acontece) da Carrola para Santo Amaro e Valverdinho é que a agricultura
beneficia dos «hidratantes» do regadio. Ficaram
de fora até este momento todas as áreas da Várzea,
Ponte, Ribeira, Alvarcão, Cruzes, Estrada, Serra, Tinte, Cantargalo, Gralhais, Pessegueiros,
Lagares, Alvercas, Marineto (Marneto) e toda a parte a Norte da Estrada
Nacional – regiões agrícolas
riquíssimas e muito férteis, pesem embora os abandonos da agricultura dos
tempos de hoje. Mas também será certo que, quanto menos condições, menos
culturas.
Mais: estas zonas vêem o
canal de irrigação passar-lhes à porta ali mesmo a uns metros – quase lhe tocam
com as mãos – mas nada de poderem beneficiar deste enorme investimento. E ainda
pior: algumas propriedades foram verdadeiramente esfrangalhadas para a passagem
do canal – o que, apesar das indemnizações, condenou esses solos ao abandono
agrícola.
Se virem bem o mapa da
página 3 do documento acima citado, percebem do que estou a falar: não existe
ali Casteleiro nenhum. Literalmente: o Casteleiro não está no mapa (neste mapa
do regadio, claro). O problema, portanto é de origem, vem de trás, é de sempre.
E sempre ouvi falar dele com indignação. Já quando eu era jovem se falava
disto, vejam lá. E só há «meia dúzia de anos» é que aquelas parcelas acima
referidas puderam ser incluídas no projecto.
O Plano de Regadio
chamou-se sempre «da Cova da Beira». Ora os municípios chamados «da Cova da
Beira» são três: Belmonte, Covilhã e Fundão… O erro original, mais tarde
melhorado com Penamacor e com um bocadinho do Sabugal, vem daí: estes são os
filhos do Plano, os outros são os enteados. Que raio de estudos são estes?
Vale a pena falar sobre isto, sim!
Apesar da tentativa de
emenda, tudo começou mal e, como diz o Povo, quem torto nasce, tarde ou nunca
se endireita.
Quero dizer que esta
questão me anda enrolada no cérebro há muitos anos. Quando no concreto, numas
férias, fomos ver o canal em grupo e soube que passava ali mas não era para a
agricultura do Casteleiro, senti uma enorme surpresa e uma grande revolta.
Tantos milhões do erário
público, tantos quilómetros de canal… tanta promessa ao longo de anos e anos… e
afinal o canal atravessa a Freguesia mas não é para a agricultura da maior
parte dos agricultores da Freguesia?
Isto não é revoltante?
Um dia deu-me para
perceber o que é que isso queria dizer e como é que tantos técnicos
justificavam essa exclusão.
Parece-me que ninguém tem
argumentos reais. Apenas algo como uma escusa de tipo administrativo: «Ah,
porque o regadio é para Penamacor e os Municípios da Cova da Beira». Depois lá
acrescentaram uma coisinha do Sabugal. Quase nada.
Quais são, pergunto.
Resposta: «Belmonte, Covilhã e Fundão».
«Boa» - respondo eu.
«Então… e o Casteleiro que toda a gente diz que em termos de desenho geográfico
natural é a primeira zona da Cova da Beira?»
Não há resposta que não
radique em mera argumentação formal: «Está assim estudado»; «Já desde o início
que os estudos apontaram este método»; ou, pior ainda, «O estudos está obsoleto
é ali para os lados da Meimoa».
Mas no Casteleiro, ao que
parece, nunca ninguém pensou!
Grandes técnicos e… maiores
políticos! Esta questão devia ter sido resolvida logo na origem, há pelo menos
30 anos.
Por
essas e por outras é que a RUDE, Associação de Desenvolvimento Rural, define
assim a Cova da Beira: «Geograficamente,
a Cova da Beira é uma depressão de superfície plana com altitudes entre os 400
e 500 metros em 30 Kms de comprimento e 112 Kms de largura. É caracterizada
pela nascente e percurso do Rio Zêzere, e ribeiras afluentes».
Como
se a Ribeira do Casteleiro não fosse um afluente do Zêzere, também.
Uma grande injustiça histórica
Acho que tudo isto é uma
grande injustiça que já se prolonga há tempo demais.
Quem conheça bem a região
concordará de imediato que estas zonas são iguaizinhas umas às outras. Qual a
diferença entre as baixas do Casteleiro, de Santo Amaro ou Valverdinho e as da
Catraia, de Belmonte ou de Caria? Nenhuma.
Até digo mais: se há
diferença para positivo é a favor das baixas de Santo Amaro que, no seu tempo
áureo, eram fonte de grande produção em variedade, qualidade e quantidade. Os
grandes produtores agrícolas que foram o pai e o tio do Engº António Nunes, da
Quinta do Espinhal, foram os artífices dessa magnífica saga, pois continuaram
na senda do «Doutor de Santo Amaro», mas com produções mais actualizadas já no
seu tempo.
Mas digo mais: qual a
diferença entre as produções das duas parcelas deste fertilíssimo território?
Nenhuma? Ao que se sabe e em resumo, «pomares, prados permanentes e milho, (são)
as 3 culturas dominantes na região» - segundo apurou a Rádio Cova da Beira. Tal
e qual como no Casteleiro. E eu acrescentaria sem pejo o belíssimo azeite e o
vinho – como, aliás, em toda a zona irrigada.
Mas depois vêm-nos deitar
poeira aos olhos e falam do aproveitamento agrícola para o Sabugal também. Mas
nestas medidas: «Bloco da Meimoa - 3.400 há; Blocos de Belmonte e Caria — 3.177
há; Bloco do Sabugal — 121,5 há» - como se lê aqui,
salvo qualquer erro de interpretação da minha parte.
Num total de mais de 14
mil hectares, e no plano dos estudos, são irrigados no Concelho do Sabugal tão
somente 121 hectarezinhos, repito. Compare-se com as Freguesias vizinhas do
Casteleiro, com mais de três mil cada uma.
O mesmíssimo clima
Ora, para lá de tudo o que
já leu, defendo que o clima também é homogéneo, para lá do desenho que a
Natureza fez da zona e das produções agrícolas similares em toda a zona.
Na quarta-feira passada,
quando pensei que devia agora escrever já sobre este tema (fora de campanhas
eleitorais e sem riscos de má interpretação), deu-me para, a título de
experiência, ir à «net» ver as temperaturas e situações climatéricas.
Eis o resultado / «Quarta-feira ao meio-dia»:
1.
Fundão: nublado; 12ºC; precipitação:
0%; humidade: 90%; vento: 0 km.
2.
Belmonte: trovoadas fracas com
chuva; 15ºC; precipitação:
0%; humidade: 88%; vento: 2 km.
3.
Covilhã: nublado; 12ºC; precipitação: 0%; humidade:
90%; vento: 0 km.
4.
Casteleiro: nebulosidade : 30%;
19°C; precipitação : 0%; humidade : 74%; vento: 0 km.
Para
quê escrever mais? Fica provado que este erro de 30 anos devia ter sido
emendado muito mais cedo, dando maior alento à agricultura na minha aldeia.
Agora, o que vier, vem a martelo e com muita emenda pior que o soneto.
Quem
aqui fica em causa são, sem dúvida, os poderes dos últimos 40 anos.
Notas
1. O meu pai falava imenso de duas melhorias para a
zona: a auto-estrada e o Plano de Regadio. Se visse isto hoje, não faltaria
«encomendá-los».
2. Pode aceder a muito mais informação sobre a Cova da
Beira, designadamente seguindo por aqui,
por aqui, por aqui e por aqui.
Links
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2
3
4
3. Leia então como acima lhe sugiro, a edição 14 do
«Serra d’ Opa». Encontra-a aqui.
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