sábado, 7 de setembro de 2013

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Foto: Rua na Guarda, em Bairro da Judiaria. Tirada daqui.



Judiarias
Vertentes culturais e económicas
A liderança de Belmonte

Já desde há uns tempos tinha em preparação o presente «estudo» e as investigações possíveis que me levaram à sua forma final actual.
Depois deste estudo, fiquei ainda mais ciente do papel que Belmonte tem desempenhado no processo de dinamização cultural e económica da Rede de Judiarias de Portugal. É a esta nossa bela vila que pertence há quase três anos a presidência da Rede (ler e ouvir aqui).

Judeus, Diáspora, judiarias, 
Rede, rotas, Inquisição, Alemanha nazi

É que, a propósito de:
1º - uma referência no blog da minha aldeia a um processo judicial (clique para mais informação) que ocorreu no século XVIII envolvendo um cidadão meu conterrâneo que era cristão-novo (judeu convertido - se calhar por razões de segurança própria e não por convicção religiosa, como quase todos...);
2º - referência neste texto do 'Capeia' em que num dos quadros se refere um processo relativo ao mesmo caso, com a nota de se tratar do Casteleiro;
3º - várias referências algo regulares à Rede de Judiarias e sua ligação a aspectos culturais e históricos da nossa região, mas também à atracção turística e portanto ao desenvolvimento das nossas terras do interior em que se encontram resquícios da presença de Judeus  e, mais fortemente à ausência de uma definição no Sabugal sobre essa matéria, havendo mesmo acusações de vária origem contra a CMS por não aproveitar e dinamizar esses aspectos, ao contrário da de Belmonte, por exemplo...
A propósito de tudo isso, e do que mais recentemente aconteceu no Sabugal (encerramento da «Casa do Castelo') acelerei uma investigação já antes agendada e que agora venho publicar, trazenho à colação informação rudimentar sobre três ou quatro aspectos.

No final deste artigo, ficam as notas regionalistas: a referência a todos os pólos dessa Rede situados na nossa zona.
A Rede de Judiarias tem um «site» com alguma informação básica.



Foto: Belmonte - Bairro da Judiaria. Tirada daqui.

I
Como nasce o problema histórico dos Judeus: a diáspora

Encontrei sobre esta questão um texto cuja tradução não é famosa, mas que partilho. Pode consultá-lo aqui. Às tantas, diz isto: «No século 13, D. Afonso regula as relações entre cristãos e judeus como eles estavam começando a criar dificuldades para a minoria».
Na Wikipedia, que vale o que vale, garante-se, relativamente a três momentos que considero a chave do entendimento da questão da diáspora judaica (perdoe-se a grafia brasileira):

1
«O Reino de Judá foi exilado pela Babilônia, depois retornou à Judeia e foi novamente exilado pelo Império Romano. A dispersão de 2000 anos da diáspora judaica começando sob o Império Romano, a medida que os judeus estavam espalhados por todo o mundo romano e estabeleciam-se em qualquer lugar onde podiam viver livremente para praticar sua religião. Durante a diáspora, o centro da população judaica mudou da Babilônia para a Península Ibérica para a Polônia para os Estados Unidos e para Israel».

2 
«Após a expulsão dos judeus de Espanha por Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão em 1492, cerca de 60.000 judeus que se recusaram converter-se ao religião cristã emigraram para Portugal. D. João II, influenciado por judeus importantes na Corte, acolhe-os, mas impõe-lhes o pagamento de oito ducados de ouronota 1 , quantia deveras elevada para a época, para permanecerem em terras lusitanas (os que não podiam pagar este valor viam metade dos seus bens confiscados para a Coroa). Pretendia-se a fixação de operários especializados, que faltavam em Portugal».

3 
«Apenas a 25 de Maio de 1773, já em plena época das luzes, Sebastião José de Carvalho e Melo, primeiro-ministro de D. José I, promulga uma lei que extinguia as diferenças entre cristãos-velhos e cristãos-novos, tornando inválidos todos os anteriores decretos e leis que discriminavam os cristão-novos». 



4
Recordo que na era moderna a maior perseguição foi desenvolvida por Hitler durante o seu domínio ditatorial sobre a Alemanha, com implantação do regime nazi.

II
Vocabulário

As presenças judaicas na nossa cultura não são apenas as arquitectónicas... ao contra´rio do que às vezes parece que pensam muitos dos seus dinamizadores. 
Há heranças também a outros níveis, como a linguagem e as nomenclaturas, por exemplo.
Há quem pense que devia haver muito maior número de palavras que tivessem transitado do Hebraico para o Português. E que isso não aconteceu também devido às perseguições: 
«Apesar da presença judaica por tantos séculos, em Portugal como no Brasil, as perseguições resultaram também em exclusões vocabulares. A maior parte dos hebraísmos chegou ao português por influência da linguagem religiosa, particularmente da Igreja Católica, fazendo escala no grego e no latim eclesiásticos, quase sempre relacionados a conceitos religiosos, exemplos: aleluia, amém, bálsamo, cabala, éden, fariseu, hosana, jubileu, maná, messias, satanás, páscoa, querubim, rabino, sábado, serafim e muitos outros». Aqui.

III
Nomes próprios e de família

O autor do texto é brasileiro e isso deve ser tido em conta. Mas há também referências a nomes próprios e de família na mesma fonte: 
«Dezenas de nomes próprios têm origem hebraica bíblica, como: Adão, Abraão, Benjamim, Daniel, Davi, Débora, Elias, Ester, Gabriel, Hiram, Israel, Ismael, Isaque, Jacó, Jeremias, Jesus, João, Joaquim, José, Judite, Josué, Miguel, Natã, Rafael, Raquel, Marta, Maria, Rute, Salomão, Sara, Saul, Simão e tantos outros. Alguns destes, na verdade, são nomes aramaicos, oriundos da Mesopotâmia, como Abraão (Avraham), que se incorporaram ao léxico hebraico no início da formação do povo hebreu.
Podemos citar centenas de nomes e sobrenomes de judaizantes e números de seus dossiês, desde a instalação da Inquisição no Brasil, a partir dos arquivos da Torre do Tombo, em Lisboa, e de livros como Wiznitzer (1966), Carvalho (1982), Falbel (1977), Novinsky (1983), Dines (1990), Cordeiro (1994), etc. Sobrenomes muito comuns, tanto no Brasil como em Portugal, podem ser atribuídos a uma origem sefardita, já que uma das características marcantes das conversões forçadas era a adoção de um novo nome. Muitos conversos adotaram nomes de plantas, animais, profissões, objetos, etc., e estes podem ser encontrados em famílias brasileiras, até hoje, em número tão grande que seria difícil enumerá-los. Exemplos: Alves, Carvalho, Duarte, Fernandes, Gonçalves, Lima, Silva, Silveira, Machado, Paiva, Miranda, Rocha, Santos, etc. Não devemos excluir a possibilidade da existência de outros sobrenomes portugueses de origem judaica.
Porém é importante ressaltar que não se pode afirmar que todo brasileiro cujo sobrenome conste dos processos seja descendente direto de judeus portugueses; para se ter certeza é necessária uma pesquisa profunda da árvore genealógica das famílias».
Nesta matéria, talvez os interessados possam aceder a perspectiva mais «nossa» na 'Rua da Judiaria', aqui.

Sabugal

Foto: Castelo do Sabugal. Tirada do 'site' da Rede

Rede de Judiarias
Na nossa zona (a que se «vê» daqui, do alto da Serra d' Opa), pertencem à Rede de Judiarias as seguintes cidades: BelmonteCastelo BrancoGuardaPenamacorSabugalTrancoso.
Se o texto aparecer em inglês, clique na tradução - que, não sendo grande coisa, vá-se lá saber porquê - sempre ajuda a perceber a coisa...
Pode aceder à informação constante do 'site' da Rede, clicando no nome que lhe interesse.
Chamo só a sua atenção para o facto de ali se afirmar, quanto a Belmonte, que a primeira prova de presença judaica refere o ano de 1297!
Quanto ao Sabugal, sublinhado para a referência à Casa do Castelo e a um número elevado de processos inquisitoriais (143).



Valorização de recursos (judaicos) endógenos
Papel de Belmonte na liderança do processo 

«Rede do Património Judaico / Programa de Valorização dos Recursos Endógenos» (PROVERE), um projecto das cidades e vilas com Judiarias, trabalho neste aspecto liderado por Belmonte e que é apoiado pela União Europeia através do PRODER.  
Em suma, o texto, que pode ler aqui, aclara as justificações e os objectivos desta realidade, sobretudo no actual contexto de desertificação do interior.

Selecciono alguns parágrafos «fortes»:
«Os territórios de baixa densidade que integram o presente PROVERE, ficarão sem dúvida beneficiados com a construção de uma nova relação rural-urbano, pois tendo presente um foco comum permitirá:
- consolidar relações de proximidade mutuamente benéficas e de natureza sinergética em detrimento de relações assimétricas;
- transformar as cidades em pontes efectivas entre as áreas rurais e o mundo exterior;
- transformar a massa crítica de recursos urbanos (humanos, institucionais, físicos, etc.) em externalidades positivas que as populações e as organizações do mundo rural conseguem parcialmente internalizar.;
- conciliar uma articulação territorial (coesão) e uma articulação funcional (integração) entre centros urbanos e áreas rurais envolventes».

Tudo isso para: « (…) concretizar um projecto de desenvolvimento regional a partir da estruturação e desenvolvimento de redes locais alinhadas com as orientações comunitárias e com os principais documentos e referenciais estratégicos das políticas nacional e regional».


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